Dor e emoção dão tom ao relato da estudante que perdeu o olho, no lançamento da Frente de Combate à violência policial
foto: Mel Coelho/Mamana Foto Coletivo

Déborah Fabri, vítima de violência policial, relata pela primeira vez detalhs do dia do ataque
Um dos momentos mais esperados no lançamento da Frente Parlamentar Em Defesa da Liberdade de Manifestação e da Liberdade de Expressão, que tem em seu cerne o combate à violência policial, foi o depoimento da jovem estudante Déborah Fabri. Vítima de violência policial, perdeu o olho esquerdo ao seu atingida por estilhaços de um bomba lançada por PMs contra os manifestantes que participavam no ato contra o impeachment da então presidenta Dilma Rousseff.
Aplaudida de pé por todos presentes, Déborah falou pela primeira vez em público sobre o que aconteceu naquela noite e sobre os impactos da violência vivida.
Depoimento
Sou militante desde 2014 e já tinha participado de várias manifestações e atos até chegar o 31 de agosto de 2016, carregando motivações, ideias e princípios.
Neste dia, assim que chegamos no ato eu vi pela primeira vez um muro de policiais, aquilo me assustou, nunca tinha visto tantos assim.
Mas estava entre amigos e entoávamos palavras de ordem e batucadas, estava animada. Até que não demorou muito e começamos a ouvir disparos de bombas e muitos PMs em motos e estrondos de bombas, gritos de medo e gente correndo para todos os lados.
Buscamos abrigo num posto de gasolina, mas como a polícia continuou jogando bombas de efeito moral e de gás saímos de mãos dadas para não nos perdermos e, então, em um dado momento percebi que uma bomba foi atirada em minha direção, logo ela estourou e os estilhaços atingiram meu rosto.
Tudo foi muito rápido, numa fração de segundos, até hoje tenho flash de memória daquele momento, parece que o tempo parou e começou a escorrer muito sangue.
Eu perguntei aos meus amigos: “estou machucada? Aconteceu alguma coisa com o meu olho?” Entrei em desespero.
Fomos buscar ajuda e muitos se negaram, até bombeiro se negou a me ajudar alegando que eu era manifestante. Depois de muitas tentativas pegamos um táxi, demoramos por conta do congestionamento, mesmo no caminho do socorro médico ouvia as bombas que continuavam sendo arremessadas contra os manifestantes e finalmente fui atendida na enfermaria da PUC.
Eu ainda me perguntava: “eu perdi meu olho?”. E pensava na minha mãe que está em Minas Gerais. Não me arrependo. Eu e meu olho esquerdo estávamos no lugar certo.
A seguir começou exposição absurda e desumana. Alguns jornalistas insistindo para falar comigo, eu ali com a minha dor, perdi um olho eles me pedindo entrevistas.
No hospital fui hostilizada por alguns médicos por ser manifestante. O único momento que recebi um gesto humano aconteceu quando a médica cirurgiã segurou na minha mão e disse que tudo ia dar certo.
Fiquei um tempo recolhida e em 3 de novembro tive que ir à delegacia depor aos PMs, falar da violência que eles fizeram comigo e, conforme foram apresentando as perguntas, percebi que eles queriam me criminalizar ao me indagar se fazia parte de algum partido, se eu sabia dos riscos de participar de uma manifestação, se participava de movimentos sociais. O que eu achava das manifestações e quem era o culpado por eu ter perdido meu olho.
Fiquei indignada ao ver aquele álbum de PMs e respondi: “ Todos estavam jogando bombas, poderiam ter atingido qualquer pessoa, culpados são todos vocês que estão com a farda suja de sangue”.
Disse que as manifestações são legítimas e uma expressão popular. Percebi que eles têm medo da gente, do nosso potencial revolucionário que pode mudar esta estrutura violenta.
Meu sangue correu nesta terra paulista. Meu sangue e de vários outros companheiros. Meu sangue ainda corre em mim para que isso não aconteça com mais ninguém. E eu quero firmar meu compromisso com a militância. Não por ódio, nem por vingança, mas por amor ao povo.
Rosário Méndez
Rede PT Ribeirão, com informações do PT Alesp

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