Mulheres de Ribeirão Preto mobilizam-se para a Marcha das Mulheres Negras

/ Editor: José Alfredo | Agência Rede PT Ribeirão
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foto: reprodução Facebook

Mulheres de Ribeirão Preto mobilizam-se para a Marcha das Mulheres Negras

Adria Maria: “Essa é uma luta de mais de 500 anos, que começou no descobrimento; os livros de história não citam as mulheres negras, mas as lutas por direitos ocorrem desde então”

 

A Secretaria das Mulheres, do Diretório Municipal do PT, de Ribeirão Preto, está se mobilizando para a 1ª Marcha das Mulheres Negras do Brasil, que será realizada em 18 de novembro, em Brasília. A marcha é organizada por várias entidades, um movimento suprapartidário, que irá discutir os assuntos relacionados às mulheres negras brasileiras. Adria Maria Bezerra Ferreira, membro da Secretaria de Mulheres do DM de Ribeirão, participa da organização local e espera que pelo menos um ônibus (com 45 pessoas) saia da cidade para o evento. 

 

“Há dois meses estamos nos preparando, enquanto em alguns estados já há dez anos existem conversas para se chegar a um consenso”, comenta Adria. Além de reuniões em Ribeirão Preto, já foram realizadas reuniões semelhantes em Araraquara e Sertãozinho e as próximas serão em Serrana e Luís Antônio. “Essa é uma luta de mais de 500 anos, que começou no descobrimento; os livros de história não citam as mulheres negras, mas as lutas por direitos ocorrem desde então”, emenda Adria.

 

A marcha de novembro tem como foco os direitos das mulheres negras em todos os setores da sociedade, como educação, saúde, segurança, moradia, geração de renda, além de respeito, espaços de poder (sejam em movimentos sociais, culturais ou sindicais). As mulheres negras lutam contra racismo e a intolerância e por garantia de vida e de cidadania.

 

MARCHA EM CURSO – COMO SURGIU

 

A Marcha foi idealizada, no Tulip Inn Hotel, Salvador-BA, por ocasião do Encontro Paralelo da Sociedade Civil para o Afro XXI: Encontro Ibero Americano do Ano dos Afrodescendentes (16 a 20 de novembro de 2011) e será construída até 18 de novembro de 2015. Trata-se de uma iniciativa de articular as mulheres negras brasileiras. A intenção é aglutinar o máximo de organizações de mulheres negras, assim como outras organizações do Movimento Negro, sem dispensar o apoio de organizações de mulheres e de todo tipo de organização que apoiem a equidade sociorracial e de gênero. Sem dúvida, o protagonismo é de mulheres negras brasileiras.

 

Marcharemos em homenagem às nossas ancestrais e em defesa da cidadania plena das mulheres negras brasileiras, porque:

 

  • - Nós mulheres negras (pretas + pardas) somos cerca de 49 milhões espalhadas por todo o Brasil;
  • - O racismo, o machismo, a pobreza, com a desigualdade social e econômica, tem prejudicado nossa vida, rebaixando a nossa autoestima coletiva e nossa própria sobrevivência;
  • - O fortalecimento da identidade negra tem sido prejudicado ao longo dos séculos pela construção negativa da imagem da pessoa negra, especialmente da mulher negra, desde a estética (cabelo, corpo, etc.) até ao papel social desenvolvido pelas mulheres negras;
  • - As mulheres negras continuam recebendo os menores salários e são as que mais têm dificuldade para entrar no mundo do trabalho;
  • - A construção do papel social das mulheres negras é sempre pensada na perspectiva da dependência, da inferioridade e da subalternização, dificultando que nós possamos assumir espaços de poder, de gerência e de decisão, quer seja no mercado de trabalho, quer seja no campo da representação política e social;
  • - As mulheres negras sustentam o grupo familiar desempenhando tarefas informais, que as levam a trabalhar em duplas e triplas jornadas de trabalho;
  • - Ainda não temos os nossos direitos humanos (direitos civis, políticos, econômicos, sociais, culturais e ambientais) plenamente respeitados.

 

O convite-convocação é geral…

 

Temos interesse especial em mobilizar: meninas negras, adolescentes e jovens negras, do campo e das cidades; negras enfermeiras, negras professoras, negras empregadas domésticas, negras quilombolas, negras das manifestações e danças tradicionais (carimbo, marabaixo, maracatu, tambor de crioula, jongo e outras), negras do samba (sambistas, passistas, porta-bandeiras), negras prostitutas, negras médicas, negras ligadas às religiões de matrizes africanas (candomblé, mina, quimbanda, umbanda, pena-maracá e outras), negras cujos filhos/as foram assassinados pela polícia, negras lavadeiras, negras cozinheiras, negras da construção civil, negras cristãs (católicas, anglicanas, presbiterianas, batistas, testemunha de Jeová, assembleianas, dentre outras),negras bahaistas, negras nerds, negras punks, negras emos, negras desportista, negras artistas, negras atéias, negras portadoras de deficiência, negras regueiras, negras rappers, negras funkeiras, negras DJs, negras grafiteiras, negras garis, negras empresárias, negras que conseguiram cursar o terceiro grau, negras cujos parentes foram assassinados nos episódios do Carandiru, Candelária, Vigário Geral, Eldorado dos Carajás e outros massacres, negras lésbicas, negras bissexuais, negras transexuais, negras modelos fashions, negras sem-terra, negras atingidas por barragens, negras sem teto, negras-indígenas, negras ribeirinhas, negras extrativistas, negras não alfabetizadas; negras que foram mal atendidas no sistema de saúde). Ou seja, todas as mulheres negras, inclusive, e principalmente, as quem foram e/ou estão sendo discriminadas por vizinhos, por médic@s, por dentistas e outros, mas que têm se sentido impotente diante de tão grande opressão.

 

O tamanho da marcha…

 

O Brasil tem a maior população negra fora da África (aproximadamente 100 milhões de pessoas) e nós, mulheres negras (pretas+ pardas), somos cerca de 49 MILHÕES, então, a ideia é viabilizar o deslocamento à Brasília de uma representação do máximo dos 5.565 municípios, com meninas-adolescentes-jovens-adultas-idosas negras.

 

Preparação…

 

Na capital de cada estado haverá coordenações para mobilização da marcha que agregarão uma ou mais organizações negras é ficarão responsáveis por garantir a capilaridade para os municípios, os quais poderão, por sua vez, ter seus próprios espaços de referências.

 

O propósito maior…

 

O processo de mobilização e preparação será um dos maiores ganhos da marcha. Oficinas ligadas às mais diversas expressões da cultura negra de cada estado-município poderão ser realizadas; oficinas ligadas à geração de renda, de apropriação de novas tecnologias e outras, poderão servir de base para o estímulo ao aumento da autoestima coletiva das mulheres negras deste país. Dessa forma, deverão ser realizadas – em cada município envolvido na marcha – oficinas sobre DHESCAs (direitos humanos, econômicos, sociais, culturais e ambientais) e Negritude Feminina.

 

Chamamento à solidariedade…

 

Convidamos todas as mulheres negras brasileiras para construir e participar da Marcha das mulheres negras. Nosso objetivo, entre outros, é dar maior visibilidade a situação de opressão secular da mulher negra, homenagear nossas ancestrais e exigir do Estado brasileiro, bem como de todos os setores da nossa sociedade, respeito e compromisso com a promoção da equidade racial e de gênero, a fim de que possamos exercer plenamente os nossos direitos como cidadãs brasileiras e construtoras históricas deste país chamado Brasil.

 

O DESAFIO É GRANDE, MAS, ENFRENTAR PROBLEMAS, ATÉ ENTÃO, SEMPRE FOI ESPECIALIDADE DE TODA MULHER NEGRA BRASILEIRA!

 

Comitê Impulsor da Marcha das Mulheres Negras 2015

 

Agentes de Pastoral Negros – APNs

Articulação Nacional de Mulheres Negras – AMNB

Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas – CONAQ

Coordenação Nacional de Entidades Negras – CONEN

Federação Nacional das Trabalhadoras Domésticas – FENATRAD

Fórum Nacional de Mulheres Negras

Movimento Negro Unificado – MNU

União de Negras e Negros pela Igualdade – UNEGRO

 

 MANIFESTO

Somos 49 milhões de mulheres negras, isto é, 25% da população brasileira. Vivenciamos a face mais perversa do racismo e do sexismo por sermos negras e mulheres. No decurso diário de nossas vidas, a forjada superioridade do componente racial branco, do patriarcado e do sexismo, que fundamenta e dinamiza um sistema de opressões que impõe, a cada mulher negra, a luta pela própria sobrevivência e de sua comunidade. 

 

Enfrentamos todas as injustiças e negações de nossa existência, enquanto reivindicamos inclusão a cada momento em que a nossa exclusão ganha novas formas.

 

Impõe-se na luta pela terra e pelos territórios quilombolas, de onde tiramos o nosso sustento e mantemo-nos ligadas à ancestralidade.

 

A despeito da nossa contribuição, somos alvo de discriminações de toda ordem, as quais não nos permitem, por gerações e gerações de mulheres negras, desfrutarmos daquilo que produzimos.

 

Fomos e continuamos sendo a base para o desenvolvimento econômico e político do Brasil sem que a distribuição dos ativos do nosso trabalho seja revertida para o nosso próprio benefício.

 

Consideramos que, mesmo diante de um quadro de mobilidade social pela via do consumo, percebido nos últimos anos, as estruturas de desigualdade de raça e de gênero mantêm-se por meio da concentração de poder racial, patriarcal e sexista, alijando a nós, mulheres negras, das possibilidades de desenvolvimento e disputa de espaços como deveria ser a máxima de uma sociedade justa, democrática e solidária.

 

Não aceitamos ser vistas como objeto de consumo e cobaias das indústrias de cosméticos, moda ou farmacêutica. Queremos o fim da ditadura da estética europeia branca e o respeito à diversidade cultural e estética negra. Nossa luta é por cidadania e a garantia de nossas vidas.

 

Estamos em Marcha para exigir o fim do racismo em todos os seus modos de incidência, a exemplo da saúde, onde a mortalidade materna entre mulheres negras estão relacionadas à dificuldade do acesso aos serviços de saúde, à baixa qualidade do atendimento recebido aliada à falta de ações e de capacitação de profissionais de saúde voltadas especificamente para os riscos a que as mulheres negras estão expostas; da segurança pública cujos operadores e operadoras decidem quem deve viver e quem deve morrer mediante a omissão do Estado e da sociedade para com as nossas vidas negras.

 

Denunciamos as batalhas solitárias contra a drogadição e a criminalização do nosso povo e contra a eliminação de nossas filhas e filhos pelas forças policiais e pelo tráfico, há muito tempo! Denunciamos o encarceramento desregrado de nossos corpos, vez que representamos mais de 60% das mulheres que ocupam celas de prisões e penitenciárias deste país.

 

Ao travarmos batalhas solitárias por justiça num quadro de extrema violência racial, denunciamos a cruel violência doméstica que vem levando aos maus tratos e homicídios de mulheres negras, silenciados em dados oficiais. Lutamos pelo fim do racismo estrutural patriarcal que promove a inoperância do poder público e da sociedade sobre a exterminação da nossa população negra.

 

Estamos em marcha para reivindicamos o livre culto de nossas divindades de matriz africana sem perseguições, nem profanações e depredações de nossos templos sagrados.

 

Estamos em marcha contra a remoção racista das populações das localidades onde habitam. Lutamos por moradia digna; por cidades que não limitem nosso direito de ir e vir e contra a segregação racial do espaço urbano e rural; por transporte coletivo de qualidade; por condições de trabalho decente nas diferentes profissões que exercemos. Valorizamos nosso patrimônio imaterial em terreiros, escolas de samba, blocos afros, carimbó, literatura e todas as demais manifestações culturais, definidoras da nossa identidade negra.

 

Estamos em marcha porque somos a imensa maioria das que criam nossos filhos e filhas sozinhas, as chefes de famílias, com parcos recursos e o suor de nosso único e exclusivo trabalho.

 

Estamos em Marcha:

  • - Pelo fim do femicídio de mulheres negras e pela visibilidade e garantia de nossas vidas;
  • - Pela investigação de todos os casos de violência doméstica e assassinatos de mulheres negras, com a penalização dos culpados;
  • - Pelo fim do racismo e sexismo produzidos nos veículos de comunicação promovendo a violência simbólica e física contra as mulheres negras;
  • - Pelo fim dos critérios e práticas racistas e sexistas no ambiente de trabalho;
  • - Pelo fim das revistas vexatórias em presídios e as agressões sumárias às mulheres negras em casas de detenções;
  • - Pela garantia de atendimento e acesso à saúde de qualidade às mulheres negras e pela penalização de discriminação racial e sexual nos atendimentos dos serviços públicos;
  • - Pela titulação e garantia das terras quilombolas, especialmente em nome das mulheres negras, pois é de onde tiramos o nosso sustento e mantemo-nos ligadas à ancestralidade;
  • - Pelo fim do desrespeito religioso e pela garantia da reprodução cultural de nossas práticas ancestrais de matriz africana;
  • - Pela nossa participação efetiva na vida pública.

 

Buscamos num processo de protagonismo político das mulheres negras, em que nossas pautas de reivindicação tenham a centralidade neste país. Nosso ponto de chegada e início de uma nova caminhada é 18 de novembro de 2015 dentre as atividades do Mês da Consciência Negra.

 

Conclamamos, a todas as mulheres negras, para que se juntem a esse processo organizativo, nos locais onde estiverem, e a se integrarem nessa Marcha pela nossa cidadania.

 

Imbuídas da nossa força ancestral, da nossa liberdade de pensamento e ação política, levantamo-nos – nas cinco regiões deste país – para construir a Marcha das Mulheres Negras contra o Racismo e a Violência e pelo Bem Viver, para que o direito de vivermos livres de discriminações seja assegurado em todas as etapas de nossas vidas.

  

ESTAMOS EM MARCHA!

UMA SOBE E PUXA A OUTRA!

  

Brasil, 25 de julho de 2014.

  

Comitê Impulsor Nacional da Marcha das Mulheres Negras contra o Racismo e a Violência e pelo Bem Viver 2015

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