Visibilidade Lésbica: elas estão aqui e esta é uma luta de todas as mulheres
Arquivo Pessoal
E que nós, mulheres em toda nossa diversidade, não nos esqueçamos que esta luta importa a todas nós... sem exceção!
O mês de agosto é
sempre de especial importância para as mulheres lésbicas: no dia 19 de agosto
comemora-se o dia do Orgulho Lésbico, em razão do protesto realizado no ano de
1993 contra a discriminação ocorrida no bar Ferro’s, em São Paulo e, o dia 29
de agosto é considerado o dia da Visibilidade Lésbica, em referência ao 1º Seminário
Nacional de Lésbicas ocorrido em 1996.
Agosto
se encerrou há poucos dias e foi valioso ver e ouvir tantas lésbicas
intensificando sua mobilização para forçar a ruptura da invisibilidade social
que o machismo insiste em lhes impor! Mas sabemos que quanto maior a
resistência e avanço lésbicos em direção à ocupação dos espaços públicos e da
afirmação enquanto sujeitos ativos dos processos sociais de tomada de decisões
políticas, maior também a violência, de toda natureza, a que submetidas pela
lógica patriarcal.
Assim, embora a
luta e o ativismo de mulheres lésbicas por dignidade e respeito exista há
décadas, a lesbofobia se faz presente de forma ainda mais profunda e arraigada
na sociedade brasileira, que age ora com preconceito, ora com invisibilização
ante as mulheres que se relacionam afetivamente com outras mulheres.
Apesar de a lesbofobia
carregar traços similares de preconceito com aqueles sofridos pela comunidade
LGBTQIA+ em geral, em que a discriminação se materializa pela não aceitação da
orientação sexual no âmbito da própria família, pelo assédio moral nos locais
de trabalho, olhares e provocações nas ruas e, em alguns casos, na violência
física, ela apresenta características peculiares, que dizem respeito ao
controle dos corpos, sexualidades e afetividades das mulheres.
Não raro as
mulheres lésbicas se deparam a fetichização e objetificação de seus
relacionamentos e com comentários como “você nem parece lésbica”; “só é lésbica
porque ainda não encontrou um homem de verdade”; “posso participar?”; “posso
ficar olhando?”; “quem é o homem da relação?”. Essa violência, inúmeras vezes,
ultrapassa o plano simbólico e verbal e se transforma em violência física,
configurada pelo lesbocídio e pelo estupro corretivo.
A sociedade,
balizada pela dominação masculina, determina o que é considerado normal,
atribui funções às mulheres e homens, impõe formas de sentir e atuar nas
esferas da vida pública e privada, identifica espaços masculinos e femininos e
associa a eles, arbitrariamente, características de personalidade. A dicotomia
e a heterossexualidade são compulsórias e o poder age pelo sexismo – e,
portanto, pelo machismo – sobre as feminidades e lesbiandades. Nós, mulheres,
somos socializadas desde a primeira infância para competir umas com as outras e
servir aos homens. Nossa sexualidade é enxergada como objeto para a satisfação
masculina.
As mulheres
lésbicas, intencionalmente ou não, rompem com essas estruturas de dominação
impostas pelo patriarcado quando amam outras mulheres, constroem suas famílias,
são felizes. Nesse sentido, o dia da visibilidade lésbica é uma importante data
para lembrar a toda a sociedade que as mulheres lésbicas estão aqui, mas também
se mostra relevante para as mulheres heterossexuais, bissexuais, transexuais e
assexuais: representa uma luta para que as mulheres sejam protagonistas de sua
própria sexualidade e afetividade, para que sejam, se expressem, se
identifiquem, e amem como quiserem. É uma luta cujas
batalhas, árduas e diárias, uma vez vencidas, favorecem a todas nós, porque nos
tornam donas, como não poderia deixar de ser, de nossos corpos, de nossos
afetos, de nossos desejos, de nossos sonhos e de nossos projetos.
Se, no início dos
anos 2000, a sociedade brasileira presenciou importantes conquistas de direitos
das mulheres e da população LGBTQIA+, hoje vivemos um retrocesso conservador. A luta pela Visibilidade Lésbica não pode ser secundarizada
dentro das tantas lutas por visibilidade e, portanto, por direitos e, em
especial, pelo direito de existir: as lésbicas estão aqui e seu amor merece ser
vivido em toda a sua completude, beleza, livre de preconceitos! E que nós,
mulheres em toda nossa diversidade, não nos esqueçamos que esta luta importa a
todas nós... sem exceção!
Perla Müller é advogada, professora universitária, escritora e pré-candidata a vereadora de Ribeirão Preto pelo Partido dos Trabalhadores
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