Não há projeto de futuro que não seja derrotar o golpe e restabelecer a democracia
Professor Leandro Karnal em vários vídeos e palestras demonstrou uma correta compreensão da farsa do impeachment e foi contundente na caracterização da cultura do ódio que se dissemina no Brasil. No entanto em vários de seus vídeos assumia uma postura escorregadia. Ele jogava com comentários. Aliás, para cada plateia um discurso conveniente. Agora esse encontro lamentável! É evidente que o professor Karnal sabe que a indignação da esquerda em relação ao juiz Sério Moro se refere aos seus métodos e práticas e não, devido a uma postura intransigente, por discordar do seu pensamento, ou porque não somos adeptos da pluralidade. É exatamente o contrário!
O Sr. Karnal sabe que nossa contraposição frontal com esse juiz é porque se tornou um ativista do golpe e, portanto, um inimigo da democracia! Como historiador, o professor entende os processos políticos e sociais e tem ciência de que é falsa a tentativa de estabelecer uma divergência entre esquerda e direita distinguindo os contras e os favoráveis à corrupção. Ele compreende bem a diferenciação de fundo que realmente existe entre partidos políticos e setores da sociedade que apoiam o uso de métodos seletivos e a justiça como instrumento de perseguição a adversários políticos e àqueles que defendem os processos políticos e jurídicos consoantes com o Estado de Direito.
O professor, que já foi brilhante em abordagens sobre a ética e a sociedade contemporânea, tem consciência da gravidade da conjuntura que vivemos, e quando participa de um jantar para brindar possibilidade de projetos futuros com Moro está fazendo uma opção.
O professor Karnal e todos nós sabemos que não existe neutralidade em relação aos acontecimentos da vida, às injustiças sociais, aos golpes políticos. Por tudo isso, é significativo o fato de Leandro Karnal brindar ao lado do juiz famoso por abuso de poder contra Lula e sua família. Suas falas a respeito da cultura do ódio e da intolerância soam contraditórias, e não encontram eco na sua própria postura quando posa sorrindo e demonstra menosprezo às críticas ao juiz Sergio Moro. Pois, uma sociedade que não valoriza os princípios éticos e que se torna a cada dia mais racista e elitista, é fruto de todo um sistema que beneficia oligarquias, que adota atitudes arbitrárias contra movimentos de esquerda, que ameniza grandes esquemas de corrupção que envolvem o governo federal e que restringe o pensamento crítico ao manipular a mídia e restringir a liberdade de ensino e aprendizagem.
Todos sabemos que o abuso de autoridade e a seletividade dentro do judiciário são destruidores das instituições do Estado e que reforçam a impunidade. A vaidade e a bajulação da mídia, muitas vezes, reduzem nossa capacidade crítica e nos tornam vulneráveis para serem capturados pelo projeto de poder dominante. É preferível um mestre ignorante que nos ensine que em determinadas pipas não se deve beber do que uma mente brilhante que não faça essa distinção.
Não há projeto futuro para o Brasil que não seja derrotar o golpe e restabelecer a democracia. Esse projeto é incompatível com o que pensa e representa Sérgio Moro.
---Paulo Pimenta é deputado federal PT/RS
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