Vai Ter Movimento Social, Sim!
Ilustração: Ana Favaretto
O filósofo e matemático francês Jean Petitot, retomando a Teoria das Catástrofes, de René Thom, afirma grosso modo, dentre muitas outras coisas, que tudo aquilo que é recalcado, isto é, reprimido, não obstante sua força, pertinência e direito de existir, volta com mais intensidade.
Partindo do princípio de que a canção popular não é senão a estabilização das entonações da fala, Luiz Tatit demonstra tal conceito ao relacionar a fala cotidiana com modo de dizer melódico dos cancionistas.
Segundo sua teoria, a Semiótica da Canção, dentre os esforços de que lançam mão os cancionistas para compor, um dos principais é esconder (ou recalcar?) a fala por detrás do modo melódico de dizer. Não é à toa que, mesmo depois de todos os esforços de composição, na interpretação, a entonação da fala sempre disputa seu espaço com a melodia da canção; seja nos finais de frase, como fazia Cazuza, até a enunciação falada de frases inteiras, como o faz Zé ramalho. O RAP seria um exemplo limítrofe de como a fala luta para reaver seu espaço na composição cancional.
Assim também ocorre com a sociedade. Não adianta guardar os adolescentes infratores na Fundação CASA, sem um programa de reeducação e ressocialização, que eles voltarão na forma de bandidos graduados.
Tampouco é solução enfurnar bandidos graduados em ínfimos espaços sem condições dignas de um ser humano e, muitas vezes, sem julgamento, pois eles retornam ao convívio social na forma de facções criminosas, muito mais fortes.
Embora reconheçamos tal dinâmica, mesmo que intuitivamente, sem os cálculos de Petitot, a comunidade social brasileira segue, como Sísifo, na busca de recalcar movimentos sociais, negros, mulheres, comunidade LGBT, indígenas, dentre outros segmentos, sem se dar conta de que apenas estão lhes proporcionando um regime de engorda e fortalecimento. Daí, surgem o MST, o MTST, o Movimento Negro, o feminismo e as paradas LGBTs.
É inútil o segmento conservador da sociedade brasileira tentar recalcar sujeitos - e grupos sociais - cujo modus vivendi não se coadune com sua ideia de sociedade “perfeita”.
Historicamente, a fatia conservadora da sociedade brasileira alocou pobres e miseráveis na periferia social, daí os “rolezinhos”. Todavia, os “rolezinhos” são apenas um dos aspectos do recrudescimento de uma classe social que, com ajuda de nossos governos progressistas, compreendeu que há um lugar, seu por direito, para que suas aspirações sejam colocadas na ordem do dia. Essa revolução tem um andamento lento, mas, indefectivelmente, aflora.
---Márcio Coelho é Secretário de Cultura do PT de Ribeirão Preto
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