Arte: Ana Favaretto

Segundo historiadores contemporâneos, a Revolução Cognitiva, que levou os sapiens a criar novas formas de pensar e se comunicar, tem início estimado em 70 mil anos.

Foi essa capacidade de criar realidades imaginadas que desembocou naquilo que denominamos cultura.

Nossa perícia em crer no que não existe do mundo concreto (físico), como direitos humanos, deus, hierarquia etc. nos levou a um distanciamento inestimável dos nossos parentes mais próximos, os chimpanzés, que, embora tenham certa capacidade de comunicação e organização, jamais serão capazes de se considerar protegidos por um conjunto de palavras grafadas em um papel, como o é a Constituição Brasileira

Muitas pessoas, ainda nos dias atuais, têm dificuldade para discernir a ficção da realidade, vide o episódio da agressão de um espectador a um ator que representava um dos algozes de Jesus, numa encenação da Paixão de Cristo, este ano, em Nova Hartz, no Rio Grande do Sul.

Não foi à toa que o artista belga René Margritte pintou quadros nos quais ele alertava para o fato de que o objeto representado não era o próprio objeto, mas uma representação dele, assim como o ator que representava o soldado romano, no episódio aqui citado, não era o próprio soldado.

Ceci n’est pás une pomme – Isso não é uma maçã

Pois bem, compreendo a dificuldade que alguns setores conservadores da sociedade têm para entender o processo de auto-abstração proposto por Lula. Lula não é mais um corpo material político, mas uma configuração física - no momento, impossibilitada de se manifestar concretamente - que explodiu colorido, no sol, nos cincos sentidos do povo brasileiro.

A ideia é representação mental de algo abstrato, concreto ou quimérico, portanto, Lula não se resume a matéria, é uma onda de possibilidades que se realiza no contado do povo com a consciência.