Regina Duarte: A Perfidiazinha do Brasil
Arte: Ana Favaretto
Regina ganhou a alcunha de “namoradinha do Brasil”, na década de 1970, em plena vigência do AI-5. O Brasil sofria os horrores do regime militar, enquanto Regina, bígama, flertava com as mortes de jovens, mas, também, com o vilipendiado povo brasileiro. Lambia as botas militares, ao mesmo tempo em que afagava a ingenuidade da nossa gente. Calava-se diante da tortura e, ao mesmo tempo, sorria, às 19h, para todo o Brasil, por meio da emissora que também apoiava o Golpe de 64, com a qual manteve contrato por quase 50 anos.
Em 1979, com o Brasil ainda sob o regime exceção, a “Namoradinha do Brasil” perde a ingenuidade na pele de Malu Mulher, série protagonizada por uma socióloga proto-feminista, que foi admirada pelo público feminino ávido por sua merecida emancipação.
Malu Mulher chegou a ter um de seus episódios censurados pela ditadura. Nesse episódio, Malu, a socióloga, se disfarçava de prostituta para estudar esse segmento da sociedade. A censura não permitiu que ele fosse ao ar, pois, à época, corria à boca pequena a história de um delegado que espancava prostitutas. Sendo assim, melhor não tocar no assunto.
Nada disso abalou seu fascínio pela intolerância à diversidade de ideias e comportamentos.
Nas eleições de 2002, quando já era quase certa a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva sobre o projeto neoliberal de Fernando Henrique Cardoso, Regina olhou para as câmeras, com as quais tinha grande intimidade, e confessou ao Brasil que tinha muito medo de Lula ganhar, pois não sabia o que poderia acontecer ao país. Felizmente, pouco tempo depois, o Brasil extasiado ouvia Lula pronunciar a célebre frase: “A esperança venceu o medo”.
A Perfidiazinha do Brasil se calou por quatorze anos, mas, quando viu a possibilidade do nascimento de um regime autoritário, vestiu camiseta da corrupta CBF e, junto a milhões de brasileiros, insuflou o golpe sobre primeira presidente feminina do Brasil, Dilma Rousseff - uma espécie de Malu Mulher do povo brasileiro -, para, em seguida, embarcar no trem da Familícia. O ex-marido Daniel Filho acredita que, dessa vez, ela tenha se apaixonado pelo patético suserano.
Foi nomeada secretária especial da cultura e, sessenta dias depois, foi demitida, sob o desrespeito peculiar de seu mito. Isso é tudo o que podemos dizer sobre sua atuação à frente de tão importante Secretaria.
Ao fim e ao cabo, resta a indagação: De que adianta ter sido batizada sob a égide da realeza e tornar-se vassala do obscurantismo?
É isso.
Márcio Coelho é Secretário de Cultura do PT de Ribeirão Preto
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