Márcio Coelho: No Brasil, sucesso é ofensa pessoal!
Ilustração: Ana Favaretto
O terraplanismo a cada dia se afasta da ideia que o fundou para constituir uma epistemologia, isto é, uma maneira peculiar de pensar e produzir conhecimento.
Reduzir “Democracia em Vertigem” a um “documentário sobre o golpe” é parte de um estilo terraplanista de crítica de cinema – profissional e diletante -, que impede a curvatura do pensamento para que ele possa refletir e analisar para além da bitola midiática.
“Democracia em Vertigem” ousou e inovou ao instaurar uma narrativa em primeira pessoa de um processo ainda em andamento cujas decorrências eram imprevisíveis. Por isso, poderia ter sido acusado de não passar de um reality show cinematográfico tendencioso. Já pensaram se o corrupto fosse o Lula e, não, o Moro, como a Vaza Jato demonstrou?Haveria, nesse caso, indicação ao Oscar?
Mas, ao contrário, Petra Costa, a jovem diretora, surpreende o público com a estranheza do fato de haver n dimensões de Petra: A arqueóloga audiovisual; a protagonista do documentário; a narradora de gestos sonoros simples, elegantes e imparciais; a diretora honesta, que mostra sem medo os erros anteriores aos governos PT, aqueles que aconteceram durante os governos do PT, inclusive com uma dura autocrítica feita por Gilberto Carvalho (ex-ministro chefe da Casa Civil e conselheiro de Lula), sem esquecer da participação da empresa de seu avô no toma-lá-dá-cá da relação historicamente patrimonialista entre governos e empresas, dentre muitas outras faces, que merecem nossos cantos e loas.
O documentário também é profuso em imagens poéticas, como as reminiscências da mãe da diretora, as imagens do início da construção de Brasília, além do encontro, promovido por Petra, entre sua mãe e Dilma Rousseff, que não se conheciam até então, mas foram presas pela ditadura militar no mesmo presídio.
Não! Democracia em Vertigem não é um documentário sobre o golpe. Antes é a história contemporânea do Brasil deslindada em planos-sequências. É, de modo paradoxal, lancinante e um afago no peito daqueles que sofreram a dor da injustiça.
Com a ajuda de Petra, nunca nos esqueceremos daqueles acontecimentos na vida das nossas retinas tão fatigadas. Sorte! No meio do caminho tinha uma Petra!
Petra, há pessoas que carregam a força do nome.
Petra, Antônio Brasileiro, nosso maestro soberano, já dizia que “no Brasil, sucesso é ofensa pessoal”, por isso, não se acanhe em ofender a turba recalcada.
Petra, pise e sapateie o tapete vermelho sobre o qual jamais deitei olhos, mas, prometo, estarei atento à sua passagem, pois, nesse momento, o Brasil profundo e profundamente golpeado estará volitando ao seu lado, sussurrando em seu ouvido: obrigado, companheira.
Evoé, Petra!
---Márcio Coelho é Secretário de Cultura do PT de Ribeirão Preto
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