Macaco é a mãe!

Arte: Ana Favaretto

Macaco é a mãe!

Segundo Youval Harari, o festejado autor de “Sapiens – uma breve história da humanidade”, por volta de 70 mil anos atrás, os organismos – estruturas surgidas há cerca de 3,8 bilhões de anos - dos Homo Sapiens começaram a formar estruturas ainda mais elaboradas as quais denominamos culturas. Em conseqüência, a história da “humanidade” começou a ser contada não mais do ponto de vista biológico, mas, da interação entre os Sapiens: “O desenvolvimento subsequente dessas culturas humanas é denominado história”.

 

Não se sabe ao certo o que causou a Revolução Cognitiva, segundo Harari:

 

“A teoria mais aceita afirma que as mutações genéticas ocidentais mudaram as conexões internas do cérebro dos sapiens, possibilitando que pensassem de uma maneira sem precedentes e se comunicassem usando um tipo de linguagem totalmente novo”.

 

De acordo com o pesquisador, isso não aconteceu com os neandertais e:

 

“a imensa diversidade de realidades imaginadas que os sapiens inventaram e a diversidade resultante de padrões de comportamento são os principais componentes do que chamamos cultura”.

 

Isso que dizer que para compreender, por exemplo, fatos históricos, como a Revolução Russa, não basta que conheçamos o funcionamento biológico do ser humano, mas, principalmente, temos de levar em conta a interação entre ideias, imagens e fantasias.

 

No nível do indivíduo, somos praticamente um chimpanzé, as diferenças começam a aparecer quando nos relacionamos em um grupo com mais de 150 indivíduos. Jamais os chimpanzés conseguirão se reunir, como nos reunimos, em grupos de milhares de pessoas, em um estádio de futebol, por exemplo. Caso isso aconteça, certamente o resultado será catastrófico. Todavia, reunimo-nos frequentemente para assistir a shows, eventos religiosos e políticos, dentre outros, que reúnem centenas de milhares de pessoas.

                    

“A diferença entre nós e os chimpanzés é a cola mítica que une grandes quantidades de indivíduos, famílias e grupos. Essa cola nos tornou mestres da criação”.

 

Portanto, não é nosso físico que nos define como ser humano, mas a nossa capacidade de criar realidades imaginadas. Nós obedecemos a certa hierarquia porque acreditamos que ela melhore nossa convivência social. Assim como acreditamos que uma empresa existe, não porque ela tem contrato social, mas porque aceitamos que um contrato social institui uma empresa, que só é real em nosso imaginário, afinal, todos os prédios de uma empresa podem ser demolidos, mas a imagem que construímos de uma empresa pode ser eterna.

 

Embora um filme, uma peça de teatro, um romance, um quadro não passem de um simulacro de realidade, eles nos emocionam por meio da nossa capacidade de acreditar naquilo que não existe.

 

Do mesmo modo, acreditamos em direitos humanos, solidariedade, compaixão, enfim, em coisas que existem somente por meio de um acordo sócio-mental, isto é um acordo que não tem respaldo na concretude. Daí, a enorme importância da cultura numa sociedade.

 

Harari arremata:

        

“É claro que precisamos de outras coisas, como a capacidade de confeccionar e usar ferramentas. Mas a confecção de ferramentas é insignificante se estiver associada com a capacidade de cooperar com muitas pessoas.

 

Nossa capacidade de produzir ferramentas continua grosso modo a mesma, mas a capacidade de colaboração cultural e científica de milhões de artistas e estudiosos faz a diferença.

 

Aproveitemos essa capacidade inerente à nossa espécie para frear essa onda de ódio que parece crescer a cada dia. Inundemos nossas vidas e nossos relacionamentos interpessoais de cultura e seremos capazes de fazer frente àqueles que insistem em se comportar como se estivessem em um estado pré-Sapiens.

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Márcio Coelho é secretário de Cultura do PT de Ribeirão Preto Seja Companheiro, faça sua doação ao PT de Ribeirão Preto

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