O PRESIDENTE ESTÁ NU!
Rede Social
Um Rei vaidoso, com uma corte
vaidosa e com súditos vaidosos. Essa é a base para a obra “A Roupa Nova do
Rei”, de Hans Christian Andersen, que, em um conto infantil, aborda os limites
entre realidade e fantasia, entre fatos e achismos. Em termos atuais, podemos
dizer que o rei soltou uma fake news e seu reino entrou em um estado de
alucinação coletiva. A obra é sobre vaidade. O que levou o Rei a ficar sem
roupas perante sua corte e seus súditos foi vaidade, assim como foi vaidade que
fez com que, ao menos no início, todos olhassem estupefatos para a beleza das
roupas. O fim do conto ocorre junto ao fim da farsa, com uma criança gritando,
a multidão gargalhando e o rei envergonhado. Envergonhado e pelado, sendo que
aqui entramos no final deste longo parágrafo introdutório. Qual um histórico
sinônimo de nudez? Isso mesmo, vulnerabilidade. Embora isso não seja dito no
conto, podemos ter certeza que o rei estava mais vulnerável do que nunca.
Terça feira, 24 de março de 2020,
o país encontra-se no início de uma profunda crise sanitária. O Presidente do
Brazil está ao vivo perante milhões de telespectadores para fazer um
pronunciamento. Um pronunciamento vaidoso, que vai contra o que é dito pelas
principais autoridades em saúde pública do planeta. Nem preciso dizer que
resultado deste pronunciamento foi catastrófico. Seria cômico como o pum de um
palhaço se não fosse trágico. Você pode estar pensando “tá, mas e daí? Tudo que
ele fez em 30 anos de vida pública se encaixa nessa categoria e mesmo assim ele
se elegeu presidente…”. Sim, é verdade, o cara é uma máquina de falar absurdos.
Ele se elegeu por causa dos absurdos que diz, e vai cair por este mesmo motivo.
É notório que o Bolsonaro
utilizou as redes sociais de uma maneira sem precedentes em eleições no país,
contando com um exército de militantes virtuais e muito dinheiro para
impulsionar publicações, manter robôs virtuais e propagar fake news contra seus
adversários. De acordo com a FGV, 80% das manifestações sobre o pronunciamento
foram negativas. Uma grande derrota e, em um bom jargão futebolístico, perdeu
jogando em casa.
Porém, embora discurso de ódio e
apoio em redes sociais possam vencer uma eleição, sozinhos não sustentam uma
presidência. Antes do pronunciamento, embates entre o chefe do executivo e os
demais poderes eram notícia recorrente. O ápice com certeza foi Bolsonaro
convocar manifestações contra os outros poderes. Mas, isto foi antes do dia 24
de março. Até o fatídico pronunciamento, o embate era Executivo x Legislativo e
Judiciário. Agora, é Executivo x Legislativo, Judiciário e Executivo! Sim,
temos um caso que não víamos desde 2015: parte do governo jogar contra o
próprio governo. O primeiro a discordar do presidente foi o próprio Ministro da
Saúde, que voltou atrás após ser ameaçado de perder o emprego, depois veio o
vice, com declarações que evidentemente visavam desautorizar o Jair. Em momento
de crise, é evidente que parte da população e parte do próprio governo veem no
General, e não no Capitão, a pessoa mais preparada para liderar o país.
Não bastando todas as brigas na
esfera federal, governadores e prefeitos estão cada dia mais cansados da
maneira como Bolsonaro está lidando com a crise. E não são só os de esquerda e
centro esquerda. Importantes aliados de Bolsonaro no passado romperam com o
Presidente nos últimos meses, enfraquecendo sua base de apoio. Os exemplos mais
célebres são de Caiado, Dória e Witzel – estes últimos dois, com suas
aspirações presidenciais, estão fazendo um excelente trabalho de se projetar
nacionalmente graças às suas brigas com a família Bolsonaro. Como diria Eduardo
Cunha, Deus tenha misericórdia desta nação.
Mas o pilar da democracia não são
os poderes, não é o Congresso, o Planalto, o STF, não são os governadores, as
instituições… O pilar da democracia é o povo. E como o povo está se sentindo?
No geral, cada dia mais p*** com o que está acontecendo. Ora, o Presidente
deixou claro que sua avó pode morrer desde que a economia não pare. Que a vida
de seu filho asmático é menos importante que o IBOVESPA voltar a bater 100 mil
pontos. Como continuar apoiando um sujeito desses?
O que disse acima nada mais foi
que um breve resumo do que está acontecendo no país, podemos ver isso todos os
dias, em todos os veículos de mídia. O importante é Bolsonaro ainda tem muito
apoio, mas esse apoio, tudo indica, está com os dias contados.
Agora, podemos voltar ao conto. O
Rei foi enganado por dois ladrões, que se diziam alfaiates que fariam a mais
bela das roupas, com um tecido que apenas os inteligentes podem ver. Podemos
chamar esses ladrões de mercado financeiro. O Rei mesmo não conhecendo nada
sobre tal tecido e sobre os supostos alfaiates se aliou cegamente a eles,
entregando baús de dinheiro dos cofres reais para os ladrões mercado financeiro
e recebendo em troca uma belíssima roupa feita de nada. Não bastando cair na
farsa, convoca uma gigante passeata para exibir suas roupas que não existem, a
famosa e grandiosa Passeata Pronunciamento Oficial. A diferença é que, no
final, a multidão não caiu em gargalhadas. O que a multidão ouviu é que o
importante é salvar a saúde financeira de uma elite rentista, mesmo que isso
custe a vida de milhares de pessoas.
Jair Bolsonaro nunca esteve tão
vulnerável quanto neste momento, já não tem respaldo nas instituições e seu
apoio com o povo está em queda livre. E isso aconteceu perante aos olhos de
milhões de brasileiros. Pasmem, nem seu histórico de atleta pode ser suficiente
para tirá-lo dessa enrascada que ele mesmo se colocou.
Este é o momento que uma criança
se aproxima, aponta o dedo e grita:
– O Presidente está nu
Lucca Vinha é secretário licenciado da JPT de Ribeirão Preto
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