Eles não têm programa
Foto: Ascom FUP
A Federação Única dos Petroleiros (FUP) e seus sindicatos filiados convocaram a categoria petroleira para uma greve nacional de advertência de 72 horas.
O absurdo aumento do preço dos combustíveis e as suas consequências - imediatamente uma paralisação de caminhoneiros que coloca em xeque a distribuição de produtos, combustíveis, alimentos etc – constituem um ensaio geral do que está por vir no Brasil, seja na esfera econômica, seja nas esferas social e política. Tais acontecimentos representam derivações necessárias da política neoliberal esposada pelo governo golpista de Temer. A essência de tal política é a contemplação de pouquíssimos interesses, em realidade apenas dos interesses do partido do capital. No caso brasileiro, com o agravante que nesse partido não há lugar para o capital nacional produtivo.
Em substituição ao Estado de compromisso que vigorou de 2003 ao golpe de Estado de 2016 - Estado que abarcou em si uma multiplicidade de interesses, inclusive uma miríade de interesses antagônicos, dos quais nenhum deles conquistou hegemonia sobre os demais, o que fez do chefe do Executivo árbitro cuja função era a de mediar tais interesses - o governo Temer tem adotado uma política antinacional – que se expressa na entrega de nossos poços de petróleo, na autorização da venda da Embraer para a Boeing, na privatização da Eletrobrás, na extinção do fundo soberano – e uma política antipopular, com a retirada radical de direitos como na reforma trabalhista ou ainda como na redução acentuada de recursos nas áreas sociais, na saúde e na educação. Uma de suas últimas medidas foi o fechamento da farmácia popular.
Essas medidas, atualizações do que foi praticado durante os governos FHC, representam uma ruptura com a via de desenvolvimento inaugurada em 2003 e derrotada – por enquanto – pelo golpe de 2016. Temer, evidentemente, não representa uma continuidade do governo Dilma, mas a sua antítese, a aplicação de um programa político derrotado em quatro eleições.
O favorecimento de apenas um polo leva a desorganização econômica, social e também necessariamente política, desorganização que tende ao caos e ao colapso. As já mencionadas medidas, também a PEC da Morte, que limita o gasto governamental por vinte anos, e, positivamente, a ausência de uma política de desenvolvimento prometem um não futuro para o Brasil. Prometem um colapso como o grego, inclusive quanto à capacidade da União de honrar seus compromissos com o funcionalismo público e pensionistas, dificuldades que já se manifestam com amarga clareza em alguns Estados da federação.
Não haverá qualquer retomada econômica real sem uma mudança de rumo, sem que o Estado volte a ser protagonista do desenvolvimento. A novidade que os golpistas têm a oferecer é o velho receituário já posto em prática e fracassado nos anos FHC – fracassado quanto à criação de empregos ou quanto à redução da desigualdade social, fracassado quanto à melhora da vida concreta do povo – receituário, aliás, muito adotado nos países latino-americanos – sob o aplauso das potências – antes da crise de 1929. Isso certamente não terminará bem.
Do ponto de vista imediato, essa desorganização não beneficia apenas a esquerda, mas também aos que aparentemente – mas não realmente - representam a novidade, como a candidatura Bolsonaro. Mas apenas a esquerda tem condições de indicar uma saída para o país e, por essa razão, possui muitas possibilidades de vitória em um prazo não tão longo. Somente a esquerda pode propor e viabilizar um projeto nacional de desenvolvimento baseado na industrialização e na ampliação do mercado interno sob a égide do investimento e do planejamento estatal. Somente a esquerda pode evitar a marcha acelerada – na qual nos encontramos - ao abismo.
---Jorge Roque é formado em Ciências Sociais pela UFMG, onde também concluiu especialização em Ciência Política, e em Direito pelo Centro Universitário Moura Lacerda, atualmente faz mestrado em Direito na USP de Ribeirão Preto
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