Feres Sabino: Rios Voadores
Ilustração: Patricia Brandstatter
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O texto indica os seis biomas do Brasil (Amazônia, Cerrado, Pantanal, Caatinga, Pampa e Mata Atlântica), e oferece a definição para compreendê-los: “Bioma é o conjunto de vida (animal e vegetal) constituído pelo agrupamento de tipos de vegetais contíguos e identificáveis em escala regional com condições geoclimáticas similares e história compartilhada de mudanças, o que resulta em uma diversidade biológica própria”
Se os ambientalistas, climatologistas, geógrafos e geólogos preocupam-se naturalmente com a ameaça que paira sobre os rios voadores na Amazônia em razão do desmatamento ou da grilagem, agora, mais ainda, essa preocupação se aprofunda com a notícia do esquartejamento da floresta, já que “estão abrindo fendas transversas, contínuas e expansivas na Amazônia, de sul para o norte e de leste para oeste, projetando um cenário de esquartejamento da Amazônia definitivo da floresta, com graves implicações para os fluxos genéticos e de umidade. Ilhas de florestas não conservam animais, plantas e paisagens como ambiente continuo”.
Essa matéria vem à baila em razão do artigo publicado na Folha de S.Paulo, assinado por Márcio Santilli, que confirma o que a Voz do Brasil já ventilara, mas como simples notícia relativa à pressão de deputados e senadores daquele estado, em relação ao território da floresta. Hoje se sabe que essa pressão representa a subtração de um milhão de hectares das cinco unidades de Conservação Ambiental.
Está muito próxima, no tempo, a aflição de que a capital de São Paulo e a sua região metropolitana padeceram com a falta de chuvas e, por consequência, de água para servir a sua população. Se tal aflição não se compara à da região nordestina que, há cinco anos, padece da falta de chuvas, propiciando a consciência real e imediata da necessidade da água, as regiões e cidades que se abastecem da água do Aquífero Guarani, ao contrário, não desenvolvem com a rapidez desejada a consciência do risco permanente da exploração predatória da região distante, que contribui naturalmente para que tenhamos chuvas regulares, que não podem faltar pelo excesso de gás carbônico na atmosfera, ou se especificamente os rios voadores sofrerem queda acentuada na sua vazão.
Rios voadores, como todos certamente já sabem, mas repito para registro formal, “são uma espécie de curso de água invisível que circula pela atmosfera. Trata-se da umidade gerada pela Amazônia e que se dispersa por todo o continente sul-americano. As principais regiões de destino são o Centro-Oeste, Sudeste e o Sul do Brasil, de forma que alguns pesquisadores afirmam que, sem essa umidade, o ambiente dessas regiões transformar-se-ia em algo parecido com um deserto. A origem dos rios voadores acontece da seguinte forma: as árvores da floresta Amazônica ‘bombeiam’ as águas das chuvas de volta para a atmosfera, por meio de um fenômeno denominado evapotranspiração, ou seja, a água das chuvas que fica retida nas copas das árvores evapora e permanece na atmosfera em forma de umidade. É exatamente essa umidade que forma os rios voadores” (Rodolfo F. Alves Pena, Umidade Atmosférica).
A vazão desse aguaceiro aéreo é da ordem de 200 milhões de litros por segundo (similar à do rio Amazonas), fazendo da Amazônia uma das regiões mais úmidas do planeta, além de provocar as chuvas que desabam diariamente por toda a região.
Essa realidade física, geográfica e cultural ganha nesse ano uma forte difusão de consciência e responsabilidade, com a Companha da Fraternidade, que, por meio da iniciativa da Conferência Nacional dos Bispos, que tem texto, oração e cânticos para que as pastorais de todo Brasil celebrem, no correr desse ano, o tema “Fraternidade: biomas brasileiros e defesa da vida”, com o lema “Cultivar e guardar a criação’ (GN. 2:15).
O texto indica os seis biomas do Brasil (Amazônia, Cerrado, Pantanal, Caatinga, Pampa e Mata Atlântica), e oferece a definição para compreendê-los: “Bioma é o conjunto de vida (animal e vegetal) constituído pelo agrupamento de tipos de vegetais contíguos e identificáveis em escala regional com condições geoclimáticas similares e história compartilhada de mudanças, o que resulta em uma diversidade biológica própria”.
Torna-se assim mais do que um apelo, mais do que um convite, porque uma convocação, independentemente de credo político e religioso, ou de interesse econômico e financeiro, à emergência de uma consciência social para “cultivar e guardar a criação”.
---Feres Sabino é advogado
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