Cida Mellin: Meio e mensagem
Bansky, sd
Crônica escrita na manhã de 8 de julho de 2021
Há alguns anos, não sei bem precisar exatamente,
mas, creio que com o mensalão, certos eventos políticos ganharam celebridade de
novelas! Assim, passamos a nos sentir mais participantes de um enredo. A coisa
em si existe. Para nós, que de leitores fomos transformados em voyers -
de live, de zoom, ou outro meeting, ávidos por formadores de
opinião, ou melhor, palpites, que em comum tem o dito, e desdito, palavra que
cede menor espaço à reflexão.
O programa do momento de pandemia e, de sua má
gestão, em um caos social de Golpe, quando ninguém mais quer ler seu livro
preferido, ver a série mais divertida e, em que eu, por duas semanas, não
assisti a Grey's Anatomy, esqueci, surge a CPI da indignação, a da
Covid. Assim, entra no cardápio o canal 9, a TV senado. Uma novela, um
ramerrão, conta, dentre outros, com o histrionismo de um jovem senhor
bolsonarista, de um velho Bezerra cuja máscara não tampa o nariz, da senadora
que se pretende psi, do petista com jeito avoado que espera para falar coisas
de suma importância, às 16 horas, de um tal Jorginho histriônico (quem?). Segue
o baile.
Ontem, lá pelas tantas, enfezado- essa é a
palavra?- com justo timming televisivo, Omar, ciente de que
abandonaríamos o péssimo espetáculo, dá voz de prisão ao cabra que nos venderia
por cinco reais. Celeuma. Não contente, passo às críticas da Globo News,
Gabeira- com quem tive ilusões nos idos 1980 e, com quem compartilho o gosto
pelos gatos, crê que Azis esteja estafado, triste, e se coloca contra a ordem
de prisão, sob pífios argumentos. Fácil de discordar da análise, fraca e sem
razões claras.
Como consequências, hoje, tenho certeza de que
haverá mais milicos reivindicando honestidade e honradez, e, mais audiência.
Iludiu-se quem acreditou que haveria maiores danos, a não ser o pagamento de
fiança e, mais um, amedrontado.
Conclusão deles é a de que todos mentiram. Verdade!
Na academia, aprendi que ninguém pesquisa o que não
lhe pareça óbvio. Pois bem, estamos atrás de obviedades. Porque como bem se
apropriou o jovem senhor das bases governistas, há disputa de narrativas.
E, é só isso.
Terá fim? Como tudo na vida. Será satisfatório? Não
tem como, afinal, falamos sobre muita gente morta, bestamente.
No dia do Ato passado, três de julho, em pleno sol, praça com poucas pessoas, vi um rato grande correndo. Rabudo, descarado, seminu, senti pânico, como sempre, nojo por frequentamos o mesmo lugar, vontade, jamais executada, de que alguém o matasse e um profundo dó dele, de mim mesma e do lugar em que vivo. Talvez, a sociedade do espetáculo me esteja a causar tonturas.
Aparecida Sílvia Mellin. Cronista diletante, militante petista, enfermeira de Saúde Pública, área em que fez especialização, mestrado e doutorado. Professora (1980-2020) da PUC-Campinas.
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