Antônio Alberto Machado: Os verdadeiros pinóquios

foto: Jornal GGN

Antônio Alberto Machado: Os verdadeiros pinóquios

Agora arranjaram uma boneca inflável da Dilma Rousseff com nariz de pinóquio para sugerir que a presidenta é mentirosa, provavelmente porque ela disse uma coisa na campanha de 2014 e está fazendo outra na sua atual gestão, à frente da presidência da república.

 

Mas, o esquisito é que a presidenta Dilma está fazendo agora exatamente aquilo que queria essa turma que anda aí com os bonecos na rua. Ou seja, rendeu-se à cantilena do neoliberalismo e ao eterno “ajuste fiscal” que implica o corte de direitos e benefícios da classe trabalhadora.

 

Por isso, esses bem-nascidos (e bem postados na vida) que fazem essa gritaria toda nas ruas e nas redes, na verdade, deveriam aplaudir a presidenta Dilma Rousseff, pois ela está tomando agora as tais “medidas amargas” que tanto queriam quando apoiavam o programa econômico neoliberal de Aécio Neves.

 

Essa gente anda tão desnorteada que protesta e agride a presidenta da república, o ex-presidente Lula da Silva e o Partido dos Trabalhadores mesmo quando eles atendem as suas reivindicações. Isto revela que esses fanfarrões moralistas, que andam na rua a pedir impeachment da presidenta e intervenção militar, fazem uma gritaria enorme sem saber direito por quê.

 

A turba barulhenta, estumada por uma mídia que sabe explorar o tosco moralismo de grande parte da população, está muito longe de entender os reais problemas por que passa o Brasil neste momento, e nem sequer imagina qual foi o grande “erro da Dilma” na condução de sua política macroeconômica.

 

Os “donos da opinião pública” enfiaram na cabeça desse povo “indignado” que a Dilma e o PT quebraram o Brasil por causa da gastança exagerada, da “farra” e do “populismo” com o dinheiro público. Convenceram boa parte da população que os governos petistas teriam gastado de forma irresponsável com programas sociais equivocados, provocando o tal “déficit primário”, a crise fiscal e a bancarrota financeira do país.

 

É mentira.

 

O Brasil não está quebrado, pois um país com 370 bilhões de dólares em reservas internacionais está muito longe da quebra, considerando-se que o próprio FMI, BID, Banco Mundial e agências de avaliação de risco projetam para o Brasil um estoque de reserva que não chega nem à metade do estoque que já temos.

 

O que na verdade quebra o Brasil, e aí está o “grande erro da Dilma”, é a obscena taxa de juros (SELIC) que chegou atualmente à casa dos 14,25%, uma das maiores do mundo. Essa é uma distorção histórica de todos os governos anteriores – o governo de FHC, com Armínio Fraga à frente do Banco Central, chegou a praticar a absurda Taxa Selic de 44,85% a.a.

 

O que o governo brasileiro gasta hoje com “despesas financeiras” para pagamento dos juros da dívida pública chega a R$ 440 bilhões anuais, ou seja, quase 8% do PIB nacional. Mas, o que ele gasta com “despesas sociais”, como o programa Bolsa Família, por exemplo, não passa de R$ 28 bilhões por ano, isto é, bem menos de 0,005% do PIB.

 

Estima-se que todos os prejuízos causados pela corrupção na Petrobras, ao longo desses anos todos (muitos anos), não passam de R$ 52 bilhões de reais. Mas, a opinião pública manipulada ainda acha que a Operação Lava Jato, e o moralismo tacanho que ela despertou, vai “passar o país a limpo” e fazer o Brasil crescer mesmo despejando R$ 440 bilhões de juros nos cofres da banca e dos rentistas.

 

É fácil entender porque os bancos não param de lucrar enquanto a classe trabalhadora continua “pagando o pato” dessa orgia financeira. Os bancos tomam dinheiro na praça sem custo nenhum, compram títulos do governo, ou seja, emprestam esse dinheiro ao tesouro nacional a juros de 14,85% ao ano – só o governo está preso a essa SELIC – obtendo lucro líquido de 5% acima da inflação, e ainda acrescentam os juros à dívida principal como numa “bola de neve”.

 

Absurdo, não? Pois é, faça as contas companheiro. Veja o volume de dinheiro que vai para os endinheirados (bancos, fundos e investidores) e você já saberá imediatamente quem é que na verdade está “quebrando” o Brasil.

 

Por que a turma dos indignados não pega suas faixas e seus bonecos, com toda essa comovente indignação moralista, e não sai às ruas para protestar contra a imoralidade dos juros que provocam, estes sim, o “desajuste fiscal”, o “desequilíbrio das contas” o “déficit primário”, o “déficit nominal” e, enfim, a ingovernabilidade do país?

 

Sabe por quê? Porque os pinóquios da economia (economistas, ideólogos e jornalistas da direita) não contam essa história pra ninguém, pois, a estratégia é manipular a opinião pública com mentiras e argumentos moralistas, jogando-a contra os governos e os representantes das classes populares e da classe trabalhadora que chegaram, não sei como, ao Palácio do Planalto.

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Antônio Alberto Machado, membro do Ministério Público do Estado de São Paulo e professor livre docente do Curso de Direito da Unesp/Franca-SP. Seja Companheiro, faça sua doação ao PT de Ribeirão Preto

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