Anisio Pires: Porto Alegre, recupera tua dignidade
Rede Social Jonas Reis
Na excelente
live organizada na terça 21 de julho pelo professor Jonas Reis, junto com o ex
governador Tarso Genro (link da
live), fomos tomados pela saudade. Tarso conseguiu nos entusiasmar ao
relembrar com detalhes tudo o que foi feito em benefício da população e da
cidade de Porto Alegre pelas Administrações Populares do PT, dirigidas com
muita coragem, grandeza e honestidade por ele, Olívio Dutra, Raul Pont e João
Verle.
Foram 16
anos nos quais a cidade foi um orgulho para seus habitantes, para o Brasil e
para o mundo. Porto Alegre levou ao mundo o Orçamento Participativo (OP) e o
Fórum Social Mundial, enquanto construía para seus habitantes saneamento
básico, transporte público, educação, ciência, tecnologia e muita cultura.
Nesses anos, a dignidade das pessoas, mais do que respeitada, foi valorizada e
promovida. Um Outro Mundo é Possível e Porto Alegre mostrava que era verdade.
No entanto,
ainda não tínhamos aprendido aquela outra lição infantil do comunismo: a da
ingenuidade. A advertência do Chê, que repetíamos, sobre não confiarmos sequer
um pouquinho no imperialismo, não tinha sido entendida em profundidade por nós.
O capitalismo faz a guerra permanente para preservar seu poder e nós não
soubemos levar adiante uma revolução permanente para construir o poder popular
na cidade.
Mensagem ou coincidência, o Comandante Chávez que vinha dirigindo a Revolução Bolivariana desde 1999, escolheu Porto Alegre para falar pela primeira vez ao mundo de socialismo. Isso ocorreu poucas semanas depois que a prefeitura de Porto Alegre tinha passado às mãos da direita. Foi no dia 30 de janeiro de 2005, no encerramento do V Forum Social Mundial e nessa ocasião Chávez deixou, entre outras, estas mensagens:
a) “o capitalismo deve ser transcendido pela via do socialismo”; b) é possível fazê-lo “pela via do socialismo em democracia”; c) a revolução é o único caminho, “não há outro”; d) é preciso “dar poder aos pobres para que eles derrotem sua pobreza”, isto é, é preciso construir poder popular.
Tendo essas
ideias como referência e refletindo sobre o resgate propiciado pelo Tarso e
pelo Prof. Jonas sobre a cidade que precisamos reconquistar, destaco uma
observação feita pelo companheiro Tarso quando criticou a visão da esquerda que
orienta seus movimentos exclusivamente pela lógica da ocupação de espaços na
institucionalidade embora ele não tenha esclarecido e/ou reconhecido até que
ponto as Administrações Populares do PT também caíram nessa lógica.
Ao fugir das
velhas práticas antidemocráticas, acabamos por esquecer que governo e poder não
são sinônimos. Por isso, enquanto ocupávamos espaços de forma legítima, como
consequência de nossas indiscutíveis boas gestões públicas, esquecíamos de
construir poder popular. A prova disso foi que, uma vez derrotados nas eleições
para a prefeitura, passamos da efervescente participação popular no Orçamento
Participativo (OP) à sua eliminação pela direita de forma “lenta, gradual e
segura”. Se o poder popular estivesse minimamente estruturado, o desmonte do OP
e das políticas públicas teria enfrentado maior resistência.
Após 16 anos
de conquistas populares, estas nos foram arrancadas. As esperadas batalhas por
Porto Alegre não aconteceram. Isto explica tudo o que aconteceu na cidade até
agora? Evidentemente que não. Mas nessa fase agressiva do decadente capitalismo
mundial, recuperar e conquistar novos espaços vai depender da nossa capacidade
de construirmos novos e qualificados poderes populares que reafirmem a
identidade das comunidades, sua dignidade e vontade de lutar para que sua
cidade seja parte de um Brasil mais justo, independente e soberano, governado
pelos brasileiros que de fato amam sua pátria e não por exploradores sem alma,
capazes de se vender e se ajoelhar frente aos Estados Unidos e seus agentes.
A Manuela, o
Miguel e todos os que no campo democrático e popular procuram se comunicar com
o povo, como vem fazendo o professor Jonas Reis, podem e devem a todo momento
ter essa questão presente. Levar uma mensagem otimista de esperança que eleve o
patamar de consciência das pessoas, construindo "junto com" a
verdadeira política, aquela que de baixo para cima constrói os espaços
liberados do poder popular.
Assista na
integra:
Anisio Pires é venezuelano, cientista social pela UFRGS e professor da Universidade Bolivariana da Venezuela (UBV)
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